09/04/2014

Dos motivos de se acreditar na vida


Há dois anos o carpinteiro Haroldo Lucena (49) e a missionária Maricelma da Silva (31) entraram no projeto Pró-vida. Os dois são pais de Mateus e Ruhama, hoje com 2 anos e dois meses. Eles são gêmeos univitelinos da mesma placenta, mas enquanto Mateus é uma criança normal, Ruhama apresenta uma má formação congênita.

“Desde o início da gravidez nós sabíamos da situação da Ruhama. Os médicos não nos davam nem 1% de chance de que ela pudesse sobreviver. O caso deles é muito raro porque são da mesma placenta, de sexos diferentes, com o mesmo tipo de sangue do meu e são univitelinos” explica o pai. 
O caso de Ruhama intriga a medicina. Segundo a estudante de medicina, Acynelly Dafne, ela poderia ser diagnosticada com a síndrome de Escobar, que é determinada geneticamente, com características físicas e ortopédicas marcantes. No entanto, segundo Haroldo, os pacientes que portam a síndrome apresentam o cérebro totalmente formado, que não é o caso de Ruhama. Em relação à microcefalia, a estudante explica que esse termo refere-se ao tamanho da cabeça, determinado a partir da medida do perímetro cefálico, que é comparado a uma média esperada para a idade e o sexo da criança. “Apesar de ser uma medida da caixa craniana e não de seu conteúdo, ela comumente está associada a cérebros pequenos e danos cerebrais” esclarece Acynelly
É como uma lâmpada que sempre acendeu e um dia descobre-se que ela não tinha nenhuma ligação de energia.
“É muito complicado até quando os médicos nos explicam. Ela não tem bulbo, mas interage. É como uma lâmpada que sempre acendeu e um dia descobre-se que ela não tinha nenhuma ligação de energia. Ou seja, o diagnóstico é que não há diagnóstico” completa Haroldo. 
Quando os gemêos nasceram, em 2011, a família viveu momentos de apreensão. O Rio Grande do Norte sofria com uma das maiores greves de médicos da história e portanto, não haviam médicos para acompanharem o tratamento de Ruhama, que havia nascido com 1,700kg. Com os dois récem nascidos, Haroldo e Maricelma venderam a casa em que moravam e foram para São Paulo a bordo de um Opala 1987. 
Foi a única solução que nós encontramos
“Foi a única solução que nós encontramos” afirma Maricelma. Haroldo conta que gastaram todo o dinheiro com o tratamento de Ruhama, mas eles não poderiam ficar em São Paulo devido a altitude, que prejudicava o tratamento da menina. O casal então voltou para Caicó, cidade natal de Maricelma, onde tentaram fazer uma rifa de um carro, mas foram impedidos pela Promotoria. Rafael Anjos, estudante de Direito, explica o que possivelmente aconteceu nesse caso. “A rifa não é um crime, mas uma contravenção penal por ser considerada um jogo de azar”. 

Na época a família ficou revoltada porque os médicos não tinham um diagnóstico e o dinheiro era pouco. “Fomos para Salvador, depois para Fortaleza e foi lá onde eu vi um jornal com uma reportagem com uma menina grávida muito bonita e foi quando eu comecei minha luta contra o aborto”. conta Haroldo. 
A história do casal ganhou destaque internacional na última Jornada Mundial da Juventude, realizada em julho de 2013 no Rio de Janeiro. No dia 27 de julho, após participarem de uma celebração que reuniu bispos, sacerdotes e religiosos, o casal conseguiu a benção do papa Francisco. Haroldo conta que ele foi decido a pedir interferência do pontífice para que a presidenta Dilma Rousseff vetasse o projeto de lei  PLS 236/2012 que permite o aborto de fetos com má-formação ou anencefalia. 
Estou cansado de ouvir sentenças de morte.
Desde então a luta em prol da vida e dos deficientes só aumentou. “Estou cansado de ouvir sentenças de morte. Precisamos mostrar à sociedade o quanto eles são felizes e são capazes. Muitas vezes procuramos problemas para reclamar e temos depressão por isso. Eles tem depressão quando nos veem reclamando, mesmo sendo perfeitos” desabafa Haroldo. 

Hoje a família sobrevive com a renda que Haroldo tira da carpintaria e de palestras que ele ministra eventualmente. Além disso, o Provida os ajuda em momentos de dificuldade e Ruhama recebe um apoio financeiro de um salário mínimo do governo. Diariamente Haroldo apresenta um programa matinal na rádio comunitária Litoral Norte FM onde fala de assuntos religiosos. 

* Matéria escrita por Marina Cardoso e Luana Bittencourt, estudantes de jornalismo da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN). 
Posted By: Marina Cardoso

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